Como O Cérebro Humano Se 'Reconfigura' a Partir Dos 40 Anos (E O Que Fazer Para Mantê Lo Saudável) Bbc News Brasil
Como o cérebro humano se ‘reconfigura’ a partir dos 40 anos (e o que fazer para mantê-lo saudável) - BBC News Brasil #
Excerpt #
Com a perda da capacidade de absorver nutrientes, o cérebro faz uma espécie de ‘recabeamento’ dos seus sistemas - criando uma espécie de resistência ao envelhecimento do órgão.

Legenda do áudio, A partir dos 40 anos de idade, o cérebro humano passa por reconfigurações radicais
- Author, Alejandro Millán Valencia
- Role, BBC News Mundo
- 6 janeiro 2024
Especialmente entre os 40 e os 50 anos (período chamado pelos médicos de “quinta década”), tem início em vários órgãos do nosso corpo um processo de deterioração. Perdemos massa muscular, a visão se torna menos aguçada e as articulações começam a falhar, por exemplo.
Mas, no cérebro, o processo é um pouco diferente.
Mais do que um processo de deterioração progressiva, o que ocorre é uma espécie de reconfiguração do “cabeamento” interno.
Esta é uma das conclusões de uma equipe de pesquisadores da Universidade Monash, na Austrália, que analisou mais de 150 estudos sobre o envelhecimento do nosso corpo e, especialmente, do nosso cérebro.
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“O cérebro, embora represente apenas 2% do nosso corpo, consome 20% da glicose que entra no nosso organismo. Mas, com a idade, ele vai perdendo a capacidade de absorver esse nutriente”, explica à BBC News Mundo a neurocientista Sharna Jamadar, da Universidade Monash.
“O que o cérebro faz é uma espécie de reengenharia dos seus sistemas para aproveitar da melhor forma possível os nutrientes que, agora, pode absorver”, explica ela.
Segundo os cientistas, este processo é “radical”. E, como resultado, as diferentes redes de neurônios se tornam mais integradas nos anos seguintes, com efeitos sobre o processo cognitivo.

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Legenda da foto, A reconfiguração faz com que o cérebro perca habilidades para aperfeiçoar suas funções mais básicas
Mas o que surpreendeu os pesquisadores é que, em alguns dos casos estudados, esse “recabeamento” conseguiu criar uma espécie de resistência ao envelhecimento do cérebro.
“O importante é conhecer os processos que ocorrem dentro da nossa mente que podem nos ajudar a compreender como podemos atrasar o envelhecimento do cérebro”, explica Jamadar.
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Reconfiguração #
Uma das principais conquistas dos neurocientistas nas últimas décadas foi decifrar, até certo ponto, como é o funcionamento do cérebro.
A principal conclusão é que o nosso cérebro é composto por uma complexa rede de unidades que, por sua vez, estão divididas em regiões, subregiões e, em alguns casos, neurônios individuais.
“Com isso em mente, durante nosso crescimento e juventude, essa rede e suas unidades se encontram em processo de alta conectividade, o que é refletido, por exemplo, no aprendizado de temas específicos”, destaca a neurocientista.

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Legenda da foto, Certas funções do cérebro podem melhorar com o envelhecimento
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É por isso que, nessa idade, é mais fácil aprender esportes especializados e novos idiomas, além de desenvolver nossas habilidades em geral.
Mas, segundo a análise realizada pela equipe da Universidade Monash, liderada por Hamish Deery, esses circuitos se alteram radicalmente quando chegamos à década dos 40 anos.
“O resultado é um pensamento menos flexível, menor inibição de resposta e redução do raciocínio verbal e numérico”, explica Jamadar.
Ela acrescenta que “estas mudanças são observadas nas pessoas durante essa chamada quinta década, o que coincide com as descobertas de que as mudanças de conectividade dessas redes atingem seu ponto máximo quando você passa dos 40 para os 50 anos”.
Isso ocorre porque os circuitos se conectam mais com as redes que dirigem os temas gerais e não específicos, como ocorre nos anos anteriores.
“É como se, antes dos 40, os circuitos passassem pelas unidades do cérebro conectados a redes muito sofisticadas”, indica a neurocientista. “Depois dos 40, o que observamos é que os circuitos se conectam com todos os circuitos, quase sem discriminação.”
Resistência ao envelhecimento #
Mas a cientista ressalta que o estudo também demonstrou que essas mudanças radicais acabam nos ajudando a resistir à passagem do tempo no cérebro, segundo alguns dos casos estudados nas diferentes pesquisas.
“O importante dessa descoberta é que ela nos oferece ferramentas para começar a investigar como se chega a esta resistência, o que é fundamental para encontrar uma solução para o envelhecimento do cérebro”, segundo Jamadar.

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Legenda da foto, Exercícios mentais, como palavras cruzadas, podem ajudar a melhorar a saúde do cérebro
Neste sentido, um dos aspectos que chamou a atenção é que as tarefas que dependem de processos automáticos ou muito repetidos e praticados ao longo da vida são menos afetadas ou podem até melhorar.
“Temas como a linguagem ou outros que aprendemos de forma geral, úteis na nossa vida diária, podem até melhorar com o passar dos anos”, afirma a pesquisadora.
Como a otimização dos nutrientes é uma das razões das mudanças radicais do “cabeamento” do cérebro, a principal recomendação para manter o cérebro saudável à medida que envelhecemos é manter uma dieta saudável e fazer exercícios. Neste sentido, é recomendável o consumo de alimentos como nozes, abacate e outros vegetais.
“O cérebro irá consumir glicose em menor quantidade e de forma menos eficaz”, explica Jamadar, “de forma que os alimentos que consumirmos terão efeitos imediatos sobre a saúde do nosso cérebro.”
Por isso, ela também recomenda fazer exercícios mentais, como palavras cruzadas e outros jogos de memória. Eles irão permitir que essas redes continuem ativas, mesmo não estando mais tão conectadas entre si.



