📓 Cabinet of Ideas - Spring 2025

Brasil Pátria Conservadora!

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Excerpt #

Não há nada de inexplicável no comportamento do eleitorado, muito pelo contrário.


Brasil: Pátria Conservadora! #

Não há nada de inexplicável no comportamento do eleitorado, muito pelo contrário. #

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Vidraça quebrada por golpistas na invasão do Palácio do Planalto em 8 de janeiro de 2023. Foto: Gabriela Biló /Folhapress

Parece existir uma distância considerável entre a forma como o Brasil imagina a sua história e a forma como as coisas “realmente aconteceram”. O “realmente aconteceram”, como qualquer bom historiador diria, é um atributo complicado. O passado, sabemos, é sempre uma reconstrução a partir do presente.

Mas no caso do Brasil, a forma como esse passado é continuamente - e oficialmente - reconstruído parece nos indicar uma tendência perigosa: uma ignorância profunda sobre o fato de que o país é estruturalmente conservador.

Violentamente conservador.

O maior exemplo disso é a própria ideia de que possa ter existido uma democracia racial nesse país, justamente, no último país a oficialmente abolir a escravidão.

Com efeito, do judiciário ao sistema monetário, da indústria do entretenimento à política, todos esses elementos parecem, ao mesmo tempo, comprometidos com o pensamento conservador e, obstinados, a negar a violência de suas próprias fundações.

Se no passado se exaltava a “união das raças” por meio das telenovelas, o mito da Princesa Isabel, hoje temos o “sertanejo universitário” pintando o mundo do agronegócio com tintas agradáveis.

Processo antigo, muito antigo, por isso é importante que se tenha a consciência de que não estamos falando apenas de uma orientação conservadora, mas de uma orientação violenta.

Com efeito, a política brasileira não se tornou violenta, ela sempre foi violenta, especialmente para as esquerdas. O chamado antipetismo - esse caso particular de perseguição as esquerdas - é apenas o último capítulo dessa história.

Desde 1920, pelo menos, os governos brasileiros perseguem, prendem e assassinam seus opositores políticos. O ex-presidente Arthur Bernandes, por exemplo, chegou a criar um campo de concentração na Amazônia, no Oiapoque, para onde eram enviados militantes anarquistas. Vargas, o ídolo de algumas “esquerdas”, criou todo um departamento de polícia dedicado a repressão de anarquistas e comunistas.

E nem precisamos falar da Ditadura Militar, não é mesmo?

A repressão não era apenas política, era cultural.

Anarquistas, comunistas, negros e indígenas que lutavam por suas vidas, por suas causas, eram pintados com tintas negativas nas páginas dos jornais, demonizados. Oficialmente demonizados!

Por isso mesmo, não é de se estranhar que na redemocratização, Collor se eleja, justamente, atacando o comunismo e a associando-o ao seu principal opositor, Lula.

Nessa conjuntura a eleição do Lula nos anos 2000 apareceria como, suspostamente, o elemento fora da curva da história, quase como um elemento revolucionário. No entanto, sabemos que ela só foi possível, justamente, por meio de suas alianças com setores conservadores.

Até com o próprio pensamento conservador.

Por isso não há nada de “inexplicável”, por exemplo, no comportamento conservador do eleitorado paulistano, mesmo diante da inoperância e incompetência de seu adversário político. Boulos representa, no imaginário oficial do Brasil, aquilo que deve ser temido, aquilo que deve ser expurgado da política e da sociedade.

Preferem ver a cidade nas mãos de um incompetente do que alguém que temem. A sua militância junto ao MTST lhe coloca nessa posição, nesse lugar do imaginário.

O próprio Lula, mais uma vez, passou décadas vivendo sob esse estigma. Foram eleições e eleições, modulações no discurso, na própria imagem, a barba feita, os ternos, chancelas de figuras conservadoras. Tudo para afastá-lo da ideia de “elemento perigoso”.

E vimos como, mesmo assim, todo esse imaginário foi acionado nas eleições de 2022.

PS: Escrevi e dirigi, ao lado da diretora Renata Tupinambá, uma série sobre a forma como essa estrutura “violentamente conservadora” trata os povos indígenas brasileiros. A série é narrada pela atriz Alice Braga e a artista Daiara Tukano. Acompanhem na Audible: Yawara: Uma história oculta sobre o Brasil

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Por Orlando Calheiros · Launched 2 years ago

Metafísicas & políticas

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