Como Robôs Podem Formar Um Mercado Que Não Depende De Consumidores Humanos – Marco Gomes
Como robôs podem formar um mercado que não depende de consumidores humanos – Marco Gomes #
Excerpt #
Na discussão sobre automação dos postos de trabalho e desemprego em massa, muita gente alega que, sem trabalhadores humanos, haveria um colapso do mercado, pois as pessoas desempregadas não iriam consumir o que os robôs produzem. Eu considero esta uma perspectiva incompleta, robôs podem sim formar um mercado.
Na discussão sobre automação dos postos de trabalho e desemprego em massa, muita gente alega que, sem trabalhadores humanos, haveria um colapso do mercado, pois as pessoas desempregadas não iriam consumir o que os robôs produzem. Eu considero esta uma perspectiva incompleta, robôs podem sim formar um mercado.

Um ecossistema de robôs pode sim constituir um mercado apenas por interesse de cumprir o que foram programados, exatamente como nós humanos seguimos nossa “programação” biológica. Noah Yuval Harari explora brevemente este cenário no livro 21 Lições Para o Século 21.
Os detentores dos meios de produção, os capitalistas, dependiam de uma classe trabalhadora assalariada e consumista apenas nas revoluções industriais, este inclusive foi um dos grandes motivadores das abolições da escravidão racial nas colônias sob influência geopolítica do império Britânico: o império Britânico precisava de assalariados para consumir os produtos de suas indústrias. Nos séculos 21 e 22 poderemos ver surgir um mercado completamente robótico.
Vou criar aqui um cenário simplificado e hipotético, que ilustra tal dinâmica:
- um robô coleta insumos e produz energia, por exemplo combustível fóssil, nuclear, ou baterias carregadas com energia de luz solar ou do vento;
- outro robô “compra” esta energia e transporta sob encomenda da fábrica que produz componentes para robôs, esta fábrica também compra insumos (metal, plástico etc) de outros robôs que extraem e preparam os insumos que ela precisa;
- o transporte da energia até a fábrica é arriscado, há humanos famintos tentando roubar os produtos que estão sendo transportados, então o robô de transporte contrata drones especializados em segurança, que fazem a escolta da carga e recebem seu pagamento em valor monetário digital, ou em créditos de energia;
- este pagamento é usado pelos drones, e pelo robô de transporte, para comprar novos componentes produzidos pela fábrica de peças.
Viu? É um exemplo simples, mas ilustra como robôs podem, sozinhos, constituir um mercado sem depender de humanos consumindo. Se humanos “criaram” um mercado, e conseguem sustentá-lo, robôs podem também, seguindo os mesmos princípios básicos. E a margem de lucro deste mercado pode ser acumulada apenas para o pequeno grupo hiper-bilionário que controla os robôs, ou nem isso, e os robôs talvez controlem a si mesmos sem humano algum.
Neste cenário hipotético propositadamente exagerado, humanos pobres trabalhadores não são necessários para manutenção do mercado, nem para alimentar a fortuna dos poucos humanos bilionários e detentores dos meios de produção.
É possível que, um dia, humanos fiquem obsoletos tanto para produzir quanto para consumir.
